segunda-feira, 27 de abril de 2020

VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS



UNIDADE E VARIEDADE DA  LÍNGUA

língua apresenta variações de acordo com as diversas circunstâncias em que é falada, de acordo com diversos fatores.

a)    Fatores geográficos – O Brasil é um país gigantesco e todos falamos uma única língua oficial, o português, que sofre variações de acordo com as regiões onde é falada. São as variantes regionais, os falares. Assim, embora a língua seja a mesma em todo o território, o paulista, o mineiro, o carioca, o baiano, isso para citar alguns exemplos, apresentam sotaques diferenciados na hora de falar.

b)    Fatores sociais – O português falado pelas classes dominantes difere do português falado pelas classes populares. Assim, a elite domina uma forma de expressão lingüística que  é prestigiada, enquanto outras são vítimas de preconceitos por empregarem uma forma de expressão  lingüística menos privilegiada. Assim sendo, distinguimos de imediato duas modalidades diferentes da língua: a norma culta e a linguagem coloquialConcluímos, portanto, que o idioma é um instrumento de dominação e discriminação social. Dessa forma, o conhecimento da norma culta torna-se necessário como forma de ascensão profissional e social.
Determinados grupos sociais elegem certas formas de expressão visando o entendimento exclusivo dos seus membros. Trata-se de uma forma restrita(e de curta duração) de comunicação, a gíriavariante lingüística sujeita a contínuas transformações, muitas vezes assimiladas pela linguagem coloquial.
A norma culta é o registro formal da língua seguindo com rigidez os padrões gramaticais e apresentando um vocabulário bastante culto.
linguagem coloquial, por sua vez, é a variante popular, desprovida de maior rigor gramatical, mais espontânea e relaxada.

c)    Fatores profissionais – O exercício de certas atividades requer o domínio de formas peculiares de expressão, ou seja, termos específicos de uso restrito ao intercâmbio profissional de engenheiros, médicos, jornalistas, professores, etc. Trata-se da chamada língua técnica ou jargão.

d)    Fatores situacionais – Em diferentes situações de comunicação, um mesmo indivíduo se expressa de diferentes maneiras, adequando seu vocabulário ao contexto lingüístico. Por exemplo: num ambiente familiar, nossa linguagem é relaxada, despreocupada, ao passo em que numa situação formal, como num discurso de formatura, nossa linguagem é mais apurada, pois há uma preocupação com as regras gramaticais.

Gramática

            Dentro da diversidade das línguas ou falares  regionais se sobrepõe um uso comum a toda o território, fixado pela gramática normativa, que tem por objetivo  fixar normas para o uso da língua, criando os conceitos de certo e de errado.
            Posicionando-se sobre os conceitos de certo e errado, declara o professor e gramático Celso Cunha: “Correto é aquilo que o grupo social a que pertencemos espera de nosso comportamento verbal.”

Exercícios

1.     Relacione:
A – fatores geográficos                   B – fatores sociais
C – fatores profissionais                 D – fatores situacionais
E – norma culta                              F – gramática descritiva
G – gramática histórica                  H – gramática normativa

a)    (  ) Falamos de acordo com o ambiente e o contexto em que estamos.
b)    (  ) Variantes regionais ou falares.
c)    (  ) Língua técnica ou jargão.
d)    (  ) Norma culta e linguagem coloquial.
e)    (  ) Forma prestigiada de utilização da língua.
f)     (  ) Estabelece as noções gerais de certo ou errado.
g)    (  ) Preocupa-se em fazer uma descrição da língua.
h)    (  ) Estuda a evolução da língua ao longo do tempo.

2.    Quem fala errado: o nordestino, o mineiro, o carioca ou o paulista? Justifique sua resposta.

3.    De acordo com o que foi estudado até aqui, o que você considera “falar bem”?

4.    Explique o que são falares regionais.

5.    Relacione de acordo com os registros da língua:
A – formal (norma culta)
B – coloquial (popular)
a)    (  ) “A gente correu, mas a cana pegou todo mundo.”
b) ( ) “Senhores formandos, tendo a nau atingido seu ponto, é mister que sejam delineados os objetivos específicos.”
c) (  ) “Isso é homem que não agüenta o trabaio... quer é vagabundear, ganhar dinheiro fácil.”
d) (  ) “Na nossa aula de amanhã, veremos outra parte da matéria.”

Não gosta de gírias? Então fale difícil!!!

1. Prosopopéia flácida para acalentar bovinos.
 Conversa mole pra boi dormir.

2. Colóquio sonolento para gado bovino repousar.

3. Romper a face.

4.Creditar o primata.

5.Derrubar com a extremidade do membro inferior, o suporte sustentáculo de uma das unidades de acampamento.

6.    Deglutir o batráquio.

7.    Sequer considerar a utilização de um longo pedaço de madeira.

8.    Sequer considerar a possibilidade da fêmea bovina expirar fortes contrações laringo-bucais.

9.    Derramar água pelo chão através do tombamento premeditado de seu recipiente.

10.  Retirar o filhote de eqüino da perturbação pluvial.

11. Quando o sol está abaixo do horizonte, a totalidade dos animais domésticos da família dos felídeos é de cor mescla entre preto e branco.

12. A criatura canonizada que vive em nosso próprio lar não é capaz de produzir um efeito extraordinário que vá contra as leis fundamentais da natureza.

13. De unidade de cereal em unidade de cereal, a ave de crista carnuda, asas curtas e largas, da família das galináceas, abarrota a bolsa que existe nessa espécie por dilatação do esôfago e na qual os alimentos permanecem antes de passarem à moela.

14. Substância inodora e incolor que já se foi não é mais capaz de comunicar movimento ou ação ao engenho especial de triturar cereais.

15. Aquele que se deixa prender sentimentalmente por pessoa destituída de dotes físicos de encanto ou graça, acha-a extraordinariamente dotada desses mesmos encantos que os outros lhe não veem.




QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA


1. (ENEM)

Óia eu  aqui de  novo xaxando
Óia eu aqui de novo pra xaxar

Vou mostrar pr’esses cabras
Que eu ainda dou no couro
Isso é um desaforo
Que eu não posso levar
Que eu aqui de novo cantando
Que eu aqui de novo xaxando
Óia eu aqui de novo mostrando
Como se deve xaxar.

Vem cá morena linda
Vestida de chita
Você é a mais bonita
Desse meu lugar
Vai, chama Maria, chama Luzia
Vai, chama Zabé, chama Raque
Diz que tou aqui com alegria.

(BARROS, A. Óia  eu  aqui de  novo. Disponível  em Acesso em 5 mai  2013)
A letra da canção de  Antônio Barros manifesta aspectos do repertório  linguístico e  cultural do Brasil. O  verso que singulariza uma  forma do falar  popular  regional é
a) “Isso é um desaforo”
b) “Diz que eu tou aqui com alegria”
c) “Vou  mostrar pr’esses cabras”
d) “Vai, chama  Maria, chama  Luzia”
e)  “Vem  cá, morena linda, vestida de chita”

2. (ENEM)
Só há  uma  saída para a escola se ela quiser ser  mais bem-sucedida: aceitar a  mudança da  língua como um fato. Isso deve significar que a  escola deve aceitar qualquer forma de  língua em  suas  atividades escritas? Não deve mais  corrigir?  Não!
Há  outra dimensão a ser  considerada:  de fato, no  mundo real da escrita,  não existe  apenas  um português correto,  que  valeria para todas  as  ocasiões: o estilo dos  contratos não  é  o  mesmo dos  manuais de  instrução; o dos  juízes do  Supremo não  é  o  mesmo dos cordelistas; o dos editoriais dos  jornais  não  é  o mesmo dos cadernos de  cultura dos  mesmos  jornais. Ou  do de  seus  colunistas.
(POSSENTI,  S.  Gramática  na cabeça. Língua  Portuguesa,  ano 5, n. 67,  maio 2011 – adaptado).
Sírio Possenti defende  a tese de que  não existe um único “português  correto”. Assim  sendo, o  domínio da  língua portuguesa  implica,  entre outras coisas, saber
a) descartar  as  marcas de informalidade do texto.
b) reservar o  emprego da  norma  padrão aos textos de  circulação ampla.
c) moldar  a  norma  padrão do português pela   linguagem do discurso jornalístico.
d) adequar as  formas  da língua a diferentes tipos de  texto e contexto.
e) desprezar as formas  da língua  previstas pelas  gramáticas e  manuais divulgados  pela escola.


3. (ENEM 2016)
PINHÃO sai ao  mesmo tempo que BENONA entra.
BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e  quer  falar  com  você.
EURICÃO: Benona, minha  irmã, eu  sei  que ele  está   lá  fora, mas não  quero falar com ele.
BENONA:  Mas, Eurico, nós lhe devemos  certas  atenções.
EURICÃO: Passadas para  você, mas o prejuízo foi  meu.  Esperava que Eudoro, com todo aquele  dinheiro, se tornasse meu  cunhado. Era  uma boca a  menos e  um patrimônio a mais. E o peste me traiu. Agora, parece que ouviu dizer que eu tenho um tesouro. E vem   louco atrás dele, sedento, atacado da  verdadeira  hidrofobia. Vive farejando ouro, como  um cachorro  da  molest’a, como  um urubu, atrás do sangue dos outros. Mas ele  está enganado. Santo  Antônio há de  proteger minha pobreza e  minha  devoção. 
(SUASSUNA, A.   O  santo e  a porca. Rio de  Janeiro: José Olimpyio, 2013)
Nesse texto teatral, o emprego das  expressões “o peste” e  “cachorro da  molest’a” contribui para
(A) marcar a classe social das personagens.
(B) caracterizar usos linguísticos de uma região.
(C) enfatizar a relação familiar entre as personagens.
(D) sinalizar a influência do gênero nas escolhas vocabulares.
(E) demonstrar o tom autoritário da fala de uma das personagens.

4. (ENEM 2016)

Texto I


Entrevistadora  — Eu  vou  conversar aqui  com  a  professora A.D. …  O  português então   não  é  uma  língua  difícil?

Professora — Olha se você parte do princípio… que a língua portuguesa  não  é  só  regras  gramaticais… não se você se apaixona pela língua que  você…  já domina… que  você  já  fala ao  chegar na escola se teu  professor cativa você a ler obras da literatura… obra da/ dos  meios de comunicação… se você tem acesso a revistas… é…  a livros didáticos… a… livros de  literatura o mais formal o e/ o difícil é porque a escola  transforma como eu já disse as aulas de língua portuguesa em análises gramaticais.
Texto II
Professora — Não, se  você parte do princípio que língua portuguesa não é só regras  gramaticais. Ao chegar à escola, o aluno já domina e fala a língua. Se o professor motivá-lo a ler obras literárias e se tem acesso a  revistas, a livros didáticos, você se apaixona pela língua. O que torna difícil é que a escola transforma as aulas de língua portuguesa em análises gramaticais.
(MARCUSCHI,  L. A. Da fala para a escrita: atividades de  retextualização. São  Paulo: Cortez, 2001)
O  texto I é  a transcrição de entrevista  concedida por uma professora de  português a  um programa de rádio. O texto II é  a adaptação dessa entrevista para a modalidade escrita. Em comum, esses  textos
(A) apresentam ocorrências de hesitações e reformulações.
(B) são  modelos de emprego de regras gramaticais.
(C) são exemplos de uso não planejado da língua.
(D) apresentam marcas da linguagem literária.
(E) são  amostras do português culto urbano.

5. Enem 2013

Até quando?

Não adianta olhar pro céu
Com muita fé e pouca luta
Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer
E muita greve, você pode, você deve, pode crer
Não adianta olhar pro chão
Virar a cara pra não ver
Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus
Sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer!
GABRIEL, O PENSADOR. Seja você mesmo (mas não seja sempre o mesmo).
Rio de Janeiro: Sony Music, 2001 (fragmento).
As escolhas linguísticas feitas pelo autor conferem ao texto

a) caráter atual, pelo uso de linguagem própria da internet.
b) cunho apelativo, pela predominância de imagens metafóricas.
c) tom de diálogo, pela recorrência de gírias.
d) espontaneidade, pelo uso da linguagem coloquial.
e) originalidade, pela concisão da linguagem.